Espinafre: a novíssima promessa para controlar o apetite e emagrecer
Eu sei, uma promessa dessas aparece todo santo dia. Reconheço. E, se todas cumprissem o que afiançam, a epidemia de obesidade não estaria correndo solta. Mas escute aqui: e se eu lhe contar que estudos sobre o consumo da Spinacia oleracea no controle da gula desenfreada pipocam pelo mundo? Se fuçar, achará na web um primeiro trabalho falando de espinafre e apetite, publicado por suecos da Universidade de Lund há quatro anos. Mas ele não foi o único e a onda ganhou força mais recentemente, até bater na Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul.
Ali, a bióloga e geneticista Ivana da Cruz, uma das mais competentes pesquisadoras em alimentos funcionais do país, começou a investigar a espécie depois de notar o zunzunzum a respeito de sua ação contra a obesidade, acirrada com a revisão sistemática produzida na Universidade Emory, nos Estados Unidos, que cruzou achados de nada menos do que 102 pesquisas realizadas sobre o espinafre ao redor do planeta. Algumas delas, verdade, sobre a sua potente e já aclamada ação anti-inflamatória e o seu papel na prevenção de tumores, em especial de mama e de cólon — mas essa seria outra história.
Como eu, a professora Ivana fixou o olhar no frescor da novidade: o efeito no peso corporal. Não que essa seja a sua principal linha de pesquisa. Na realidade, o papo da cientista é cabeça: "As doenças psiquiátricas são a grande caixa-preta da Medicina, para as quais, por enquanto, ela só encontrou remédios capazes controlar os sintomas, mas que nem sempre trazem o resultado desejado", afirma. E, segundo ela, até se adaptar ao medicamento ou encontrar a droga ideal para o seu caso, muito paciente desiste ou piora a autoestima em função do ganho de peso, efeito colateral de alguns dos medicamentos usados em casos de depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia e outros.
Para driblar essa adversidade, a pesquisadora e seu time, primeiro, apostaram no guaraná. Só que, nas palavras dela, "o fruto amazônico apresenta resultados bem ambíguos por causa da cafeína em sua composição". Em matéria de emagrecimento — atenção, turma que toma suplemento de guaraná sonhando em afinar a cintura —, funciona para uns e não funciona para outros, o que depende muito de cada organismo, do hábito alimentar, da dosagem… E, de qualquer maneira, no caso dos indivíduos com transtornos psiquiátricos, a cafeína não caía bem. Inquieta, Ivana da Cruz foi buscar alternativas e daí começa o seu envolvimento com o espinafre.
De cara, ficou espantada com a quantidade de substâncias benéficas nessa verdura de provável origem persa. Além de ter muita vitamina, com destaque para a C e a K, um bocado de luteína e esnobar em minerais, o espinafre tem 17 flavonoides que são praticamente só dele. Espinacetina, espinatosídeo e outros nominhos tão difíceis de engolir que o velho marinheiro Popeye, se soubesse, cuspiria as folhas que lhe davam aquele muque de arrasar o coração da Olivia Palito (ah, perdão, impossível falar de espinafre sem cair na tentação de citar as personagens criadas em 1929 pelo americano Elzie Crisler Segar).
Nos trabalhos sobre obesidade, o segredo está guardado nos tilacoides. E — suporte algumas linhas rememorando as aulas de Botânica para entender direito do que estou falando — os tais tilacoides são membranas bem dobradinhas dentro dos cloroplastos. Opa, cloroplasto, por sua vez, é uma organela dentro das células das plantas, encarregada de transformar luz em energia na famosa fotossíntese. Fim da lição e moral da história: não adianta dar aquela mastigada básica para aproveitar os tilacoides do espinafre. Melhor triturar ou centifrugar as folhas cruas. Ou, no futuro, engolir um suplemento, como o que Ivana da Cruz e sua equipe da UFSM buscam desenvolver.
A julgar pela revisão de Emory, os tilacoides do espinafre começam a agir impedindo a absorção de parte da gordura das refeições ao se juntar à lipase, enzima que funciona como uma espécie de tesourinha natural, quebrando as moléculas gordurosas para que fiquem pequenas o suficiente para atravessarem as paredes do intestino.
Em estudos com seres humanos, o consumo de 25 gramas de tilacoides junto às refeições promoveu uma maior produção nas seis horas seguintes de CCK, de GLP-1 e de leptina, três hormônios que, cada um à sua maneira, contribuem para a sensação de saciedade. Ao mesmo tempo, cairam os níveis da grelina, o hormônio que dispara a fome.
Ivana da Cruz ressalta que todos os trabalhos usaram suplementos, com uma bela concentração de tilacoides e de outros bioativos das folhas. Enquanto o tal suplemento não chega, a saída é simples: a pesquisadora sugere acrescentar folhas de espinafre no suco da manhã. Para quem tem o hábito de usar a couve em vitaminas, a ideia é trocá-la por essa verdura.
No entanto, se os ataques de fome costumam ser noturnos, pode valer muito mais a pena sorver o suco em um lanche no final da tarde, de preferência com uma proteína — vale até bater com whey protein, por exemplo, como anda fazendo a própria professora Ivana à noitinha. É saciedade na certa e por um bom tempo. Claro, quem quer perder peso precisa de mais do que um suco de espinafre. Na receita entram orientação médica e nutricional e boas pitadas de atividade física. Mas o espinafre pode mesmo dar uma bela força e, por essa, nem Popeye esperava. Fico até imaginando se a Olivia não era um palito por dividir as refeições com ele. Será?
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