O impressionante efeito do açaí no transtorno bipolar

Crédito: iStock
Isto que vou lhe contar agora não é qualquer notícia. Ouso dizer que é para fazer alarde, porque não surgem boas novas assim todos os dias, ao menos com respaldo científico. Então guarde esta: o açaí ajuda quem sofre de transtorno bipolar e até de esquizofrenia, dois problemas psiquiátricos que, juntos, acometem mais de 50 milhões de indivíduos ao redor do planeta e mais de 4% dos adultos brasileiros. A coisa é séria e o achado, de uma enorme importância.
Aliás, a descoberta sobre o efeito do açaí na bipolaridade é apenas uma parte das façanhas de um time de cientistas que investiga a fundo — e há anos — a vida de populações de uma região específica do Amazonas, onde existe o dobro de pessoas com mais de 80 anos em relação à media de outros cantos do país. São estudiosos de várias instituições, inclusive de fora do Brasil, capitaneados pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul.
Mas vamos focar no cérebro de quem vive na gangorra dos humores. Hoje se sabe que, no transtorno bipolar, os neurônios alojam mitocôndrias defeituosas. Será que se lembra dessas ditas-cujas das aulas, lá atrás, de Biologia? Pois, sinto, vou ter de lhe refrescar a memória: mitocôndrias são organelas no interior das células que geram toda a energia para a gente viver, a partir da glicose e do oxigênio.
O problema é que, na cabeça de um bipolar, o defeito dessas usinas microscópicas faz com que despejem uma quantidade bem além do normal dos famigerados radicais livres. E eles provocam um estrago danado.
O quadro dispara, na intimidade do cérebro, uma série de inflamações. É todo esse desarranjo — e não qualquer questão de caráter ou personalidade — que provoca explosões de fúria alternadas com travessias escuras pela depressão. Ô, quadro sofrido para o sofredor….
Só que, sim, em testes de laboratório, o extrato de açaí conseguiu bloquear o comportamento nocivo das mitocôndrias defeituosas. Melhor, ele se mostrou capaz de prevenir — o que é de arrepiar, porque há um forte componente hereditário nesses casos — e até mesmo de reverter as inflamações na raiz do problema. Um viva!
Conheci o trabalho porque ele acaba de vencer a premiação organizada pela revista SAÚDE, da Editora Abril, que tive a alegria de dirigir por incríveis 17 anos. E o que mais me chamou a atenção, além da paixão de seus autores pela ciência: é sabido que os remédios usados para modular o humor de um bipolar alcançam um belo resultado. No entanto, eles agem somente sobre os sintomas.
Por mais que as alterações de humor fiquem amordaçadas pela medicação, a doença pode continuar evoluindo e evoluindo, dificultando o controle adiante, com o passar da idade. Ter algo capaz de brecá-la é valioso. Diria, único. Entenda, portanto, a força dessa novidade.
Conversei com a bióloga e geneticista Ivana da Cruz, da UFMS, para o blog do VivaBem. Bem humorada, ela garante que pesquisa científica, esta sim — mais do que qualquer futebol —, é uma caixinha de surpresas. O estudo sobre essa ação do açaí, por exemplo, nasceu em um encontro casual em Paris, entre os pesquisadores brasileiros e cientistas da Universidade de Toronto, no Canadá, a qual também assina a investigação. E ninguém, até então, imaginava enveredar o trabalho pela psiquiatria.
A conversa entusiasmada era sobre os idosos de Maués, município do Amazonas. Nada tinha a ver com distúrbios psiquiátricos e, sim, com uma série de outras condições físicas. É que os senhores longevos dessa região amazônica — maior do que o estado do Alagoas e do que a Bélgica, para você ter ideia —, vivem muito e, melhor, vivem muito bem, em todos os sentidos. Não sofrem do coração, nem de diabetes. Enxergam longe, ao pé da letra. Enfim, para eles, o tempo não é um pesar.
E papo vai, papo vem — fez-se a luz em Paris! —, não é que, deram-se conta, esses idosos mal acumulavam queixas de tristeza, nervosismo, angústia? Qual seria o segredo deles? Pronto. Assim, em 2014, surgiu o embrião do estudo.
Maués reúne centenas de populações ribeirinhas, espalhadas pela floresta. Sem contar 184 povos indígenas, que nem entraram na pesquisa. Mas o curioso é que a ausência de grandes oscilações emocionais também foi notada nos moradores das áreas urbanas. Esse detalhe motivou a troca de ideias entre os cientistas.
Ora, nas cidades, o sono prolongado, o exercício físico constante, enfim, uma série de fatores comuns nos caboclos da floresta eram bem menos frequentes. O que se assemelhava mais era a dieta. E logo a suspeita caiu sobre o açaí, consumido diariamente. Uma ótima suspeita.
Agora, os cientistas começam a testar a suplementação com o seu extrato. Não se trata de remédio, fique claro. É um suplemento alimentar, que deverá auxiliar no tratamento médico para controlar os sintomas. E, vale repetir, poderá agir na prevenção, principalmente quando houver casos de bipolaridade na família.
Ah, sim, apesar de ótimo, o açaí é mesmo calórico à beça, principalmente quando vem misturado com banana e tudo mais que a gente, distante da floresta, inventa de colocar na tigela. Mas ninguém precisará mergulhar em um balde do fruto amazônico: a dosagem do extrato que agiu positivamente nos neurônios equivaleria a comer 4 colheres de sopa de açaí por dia, só quatro mesmo. Uma notícia dessas melhora o humor de qualquer um.
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