Já pensou que culpa pelo seu sedentarismo pode ser da cidade onde mora?

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Você, que acompanha o VivaBem, já está cansado de saber que atividade física é ingrediente fundamental na receita da saúde. Provavelmente encontrou aqui mais e mais motivos para encher o dia a dia de movimento, conheceu novas modalidades e explicações sobre o que acontece no organismo de quem se mexe, mas… Bem, vamos encarar a realidade: mesmo com a minha forcinha e a dos meus colegas, talvez ainda esteja empacado no grupo dos sedentários. Olha que ele não é minoria: infelizmente, representa 47% dos brasileiros.
Há todo tipo de argumento para o desânimo. Um deles, recorrente, é a falta de tempo. E eu lá vou ser louca de dizer que é desculpa esfarrapada? Que nada! Eu, por exemplo, moro em São Paulo, sabe o que isso significa? Que faço parte de uma tribo que gasta, em média, 2 horas e 43 minutos por dia para fazer todos os deslocamentos necessários. E já foi pior, viu? Segundo dados da pesquisa de Mobilidade Urbana na Cidade, no ano passado os habitantes dessa selva de pedras esburacadas gastavam até 10 minutos a mais no trânsito. E esse tempo perdido em engarrafamentos rouba o período em que poderíamos estar na academia ou, melhor ainda, em um dos parques da cidade.
O curioso é que justo São Paulo subiu ao primeiro lugar do pódio no Ranking das Capitais Brasileiras Amigas da Atividade Física, recém-concluído por uma equipe da PUC do Paraná, liderada pelo educadores físicos Rodrigo Siqueira Reis e Adriano Akira Hino, com o apoio da revista SAÚDE, da Editora Abril. Vou dar logo os cinco primeiros e os cinco últimos colocados para matar a sua curiosidade ou, talvez, provocar a sua estranheza:
1° lugar : São Paulo (SP), como eu já contei
2° lugar : Belo Horizonte (MG)
3° lugar : Vitória (ES)
4° lugar : Curitiba (PR)
5° lugar : Rio de Janeiro (RJ)
e os lanterninhas…
23° lugar : Maceió (AL)
24° lugar : Belém (PA)
25° lugar : Rio Branco (AC)
26° lugar : Macapá (AP)
27° lugar : Porto Velho (RO)
Fica difícil entender São Paulo quando penso que 32% dos seus residentes se exercitam menos do que os 150 minutos por semana indicados pela Organização Mundial de Saúde… Mas, veja, o estudo lançou mão de cinco parâmetros e a capital paulista fez bonito em alguns deles. Por exemplo: mais de 16% da população já desistiu do carro (feito eu!) e vai de um canto a outro a pé ou de bike. Só no Rio de Janeiro existem mais andarilhos e ciclistas de carteirinha. O que não quer dizer que essa gente faça algum esporte…
Primeiro, precisamos diferenciar o que é deslocamento ativo — ir caminhando ou pedalando para a universidade ou para o trabalho — e o que é praticar atividade física durante o lazer, como largar o expediente para correr no parque em vez de se largar diante da novela da tevê. Uma diferenciação um tanto besta em matéria de saúde: as duas formas poderiam livrar aqueles 47% da população do grupo de risco dos sedentários.
Rankings assim provocam ruídos inevitavelmente, até porque São Paulo pode ser a primeira colocada, se comparada a outras capitais brasileiras. Isso não a transforma em uma cidade exemplar para a atividade física, talvez apenas na "menos pior" entre nós. Os autores nem questionam esse ponto. E fique claro que nada disso não tira o grande mérito do seu esforço: abrir os olhos da população para que não pegue a responsabilidade de ficar parada toda para si e, em vez disso, mexa-se exigindo melhores condições em sua vizinhança para praticar um exercício.
Principalmente, vale eu aqui chamar a sua atenção para o que está ao seu redor. Até que ponto a cidade em que você vive estimula ou desestimula a vontade de calçar tênis, já pensou nisso?
Você acessa facilmente espaços de lazer?
A primeira coisa que vem a cabeça são os parques públicos, com pistas para correr, ciclovias e equipamentos para exercícios. Facilita muito ter um lugar assim perto de sua casa ou do seu trabalho. Já reparou nisso? A sua parte é tentar organizar o trabalho para que antes ou depois do expediente sobre um tempo para desfrutá-los. No ranking da PUC do Paraná, Vitória assumiu dianteira nesse quesito, com 38 espaços para lazer desse tipo para cada 100 mil habitantes. Também conta ter escolas com quadras e materiais esportivos — afinal, o sedentarismo precisa ser espantado ainda na infância e na adolescência.
Se quiser ir de ônibus ou de metrô, você dispõe de um bom transporte público?
Segundo os pesquisadores, pessoas que contam com um transporte público de qualidade tendem a caminhar mais. Fácil imaginar: em vez de parar o carro no estacionamento do prédio e só andar até o elevador, no mínimo você caminhará alguns metros, talvez uns poucos quarteirões, entre o ponto ou a estação e o seu destino — e vice-versa.
As ruas perto da sua casa ou do seu trabalho são cheias de gente e locais de comércio?
Acredite: os autores do trabalho dizem que ruas superlotadas, como em geral são as dos centros das capitais, não incentivam ninguém a sair andando. Em compensação, bairros mais ermos, cheios de árvores e flores, embora sejam um cenário bonito, não são muito convidativos a passadas, independentemente de questões de segurança. As pessoas camnham mais, sem sentir, quando vão até o banco a pé e aproveitam para passar na padaria e, quem sabe, na farmácia também. Se mora em um bairro assim, fica a dica: tente resolver sua vida a pé.
Já reparou nas calçadas e em detalhes como faixas de pedestre?
Às vezes, sair andando por aí é chato porque as calçadas não contribuem. Se não têm buracos, são desniveladas. Em muitos municípios brasileiros, a responsabilidade por sua construção e conservação é do proprietário. Um prefere cimento e o outro pedrinhas, um mantém o declive para escoar água, outro deixa o seu trecho retilíneo. Resultado: o quarteirão vira pista de obstáculos e os tombos podem ser frequentes. Uma saída seria colocar o tema em associações de bairro. Estudos mostram que pessoas que moram em locais onde calçadas, faixas de pedestres e ciclovias estão em ordem se deslocam até 16% mais a pé ou de bicicleta.
Como é a segurança da região e o respeito no trânsito?
Sim, sedentarismo é assunto complexo e parcela da responsabilidade vai para a falta de policiamento e para as ruas iluminadas. Se você não se sente seguro para sair à noitinha correndo, então inverta: programe o exercício para o período matinal. Também só saia de bike se conhecer bem as normas de trânsito, preferindo sempre andar por ciclovias. Em locais onde ciclistas são atropelados com frequência, melhor não arriscar. O ideal seria a gente nem se preocupar com essas coisas. Mas, como elas existem — que triste —, fique atento a outras possibilidades para não deixar a atividade física de lado. Além da mudança de horário, quem sabe baixar um bom app de treino e, se a cidade não ajudar, malhar em casa.
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