Sem exercício, o músculo de quem tem obesidade não se renova como deveria
Antes mesmo de o outono terminar, o seu braço já não será o mesmo. A não ser que algo dê muito errado, ele terá um bíceps novinho em folha. Não, não estou falando de nenhum novo método para conquistar uma boa forma física. Isso que estou contando é pura biologia. Todo santo dia, de 1% a 2% das proteínas dos seus músculos esqueléticos devem ser quebradas e, depois, imediatamente substituídas. Portanto, em menos de dois meses seu corpo conta com uma musculatura completamente zero-quilômetro.
A capacidade de um músculo sintetizar proteínas e se renovar está intimamente ligada a dois estímulos: ingestão adequada de comida e atividade física. E isso não é de todo ruim. Significa que podemos, por exemplo, fazer exercício e mudar completamente o nosso fenótipo, ficando com uma aparência mais firme, mais forte, mais larga aqui, chapada acolá. Por outro lado, repare: pela mesma razão, a reconstrução dos nossos músculos é vulnerável ao nosso estilo de vida, o que pode ser ponto negativo para quem está bem acima do peso.
Não faltam motivos para a humanidade se preocupar com a obesidade sarcopênica —o nome da encrenca quando, não bastando um excesso de massa gorda, o corpo tem menos massa muscular do que o que seria considerado saudável. Se a gente pensar que o mundo envelhece a passos largos — o número de indivíduos na terceira idade simplesmente dobrou nos últimos anos — e que, infelizmente, não consegue frear o avanço da obesidade, temos aí um combo bem perigoso.
O médico Rocco Barazzoni, professor da Universidade de Trieste, foi um dos que falou na conferência sobre esse tema durante o Congresso Europeu de Obesidade. Barazzoni já publicou mais de 120 trabalhos em revistas científicas sobre as complicações causadas pela má nutrição no organismo de quem sofre de obesidade. "Não é porque a pessoa come demais e está acima do peso que ela tem níveis adequados de todos os nutrientes", fez questão de lembrar. "Aliás, o que mais encontramos é o inverso: os indivíduos com sobrepeso ou até mesmo obesidade apresentam diversas carências nutricionais."
Então, já deixo aqui uma primeira dica dada pelo cientista italiano: o acompanhamento nutricional de quem sofre de obesidade não pode ter uma espécie de ideia fixa no emagrecimento, fechando os olhos para o que pode estar insuficiente no organismo.
Com a idade, não importa o peso, o problema da perda de massa muscular acelera. O indivíduo, então, não consegue se movimentar direito, fica sujeito a quedas. Também mal levanta peso, não sente muita força para nada.
E, como se tudo isso não bastante, eis que surge uma nova suspeita. Para o holandês Luc van Loon, professor de fisiologia do exercício na Universidade de Maastrich, tudo leva a crer que a obesidade por si só cria um quadro conhecido por resistência anabólica, mesmo que a pessoa se alimente direito e alguma faça atividade. "Isso significa que ela não consegue repor toda a proteína que é quebrada nos músculos", diz ele
O interessante é que se trata de uma questão de timing — e essa percepção é nova para a ciência. Depois de no máximo duas horas após ingerir a fonte proteica, mais do que qualquer outra pessoa com peso normal, a pessoa com obesidade precisa fazer alguma atividade física para estimular a renovação das fibras musculares — caso contrário, seu organismo quase não aproveitará a matéria-prima vinda do prato. Obviamente, não estou falando para ninguém ir treinar num intervalo de duas horas a cada refeição, mas pelo menos uma vez ao dia fazer exercícios, que devem estar associados a uma dieta adequada.
"Dizem que você é o que você come, mas pensando na musculatura, sem uma dose diária de exercício, o individuo que sofre de obesidade é sempre menos do que ele come," resume o pesquisador. "Então, ele precisa fazer um esforço maior para compensar suas perdas diárias."
Aviso: eu viajei para cobrir o Congresso Europeu de Obesidade para o VivaBem do UOL a convite do laboratório Novo Nordisk.
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