Fimose: a pressa para resolver às vezes é a maior inimiga do pênis

Crédito: iStock
Ao nascer, só quatro em cada 100 meninos, quando muito, se exibem completamente. Como dizer…? Só 4%, no máximo, conseguem retrair a pele na ponta do pênis e expor a sua glande. São, portanto, quase que absoluta exceção. O resto veste mesmo a carapuça, que parece não sair da cabeça. Vem ao mundo com um prepúcio — o nome da tal pele — que dá e sobra. E como sobra!
No Brasil menos, mas, lá fora, de montão, muitos bebês são operados de largada. Ou melhor, entre 7 dias de vida e 6 semanas, no máximo, período em que dá para resolver esse… babado com anestésico local. Mais tarde, só com anestesia geral. Mas será que é preciso mesmo correr para tirar essa prega fora nos primeiros dias ou até mesmo nos primeiros anos de vida? "Não", foi a resposta que ouvi do urologista Paulo Moscardi, durante um café, agora que ele voltou ao país.
O médico é de uma especialidade relativamente rara dentro de outra especialidade — é um urologista pediátrico. Passou os últimos três anos na Universidade de Miami e em hospitais da Flórida, nos Estados Unidos. Nosso encontro, aliás, foi quando estava a instantes de dar uma aula sobre cirurgia robótica em crianças. E, papo vai, papo vem, quando falamos na tal fimose , ele foi categórico: "Melhor esperar", insistiu. "E evitar erros comuns durante essa espera", soltou. Pra quê! Se existem erros comuns, existe pauta para este blog.
Aos que não esperam, parênteses. Muito menino é operado por razões religiosas e isso merece o maior respeito. É o caso dos judeus, cujo prepúcio tem de sair fora por decreto divino. Diz a Bíblia, Abraão tinha 99 anos quando Deus o instruiu a circuncidar a si mesmo e aos membros de sua família. Depois do procedimento, ele e Sara tiveram mais um filho. Sem pegar ao pé da letra, o recado é claro: tirar o prepúcio da frente faz bem à saúde do homem.
Deus também prescreveu que, no caso do filho temporão e de todos os garotos que nascessem dali em diante, a circuncisão ou brit milá acontecesse no oitavo dia de vida. Um modo de interpretar a recomendação é mais médico e, se me permitem, é de tirar chapéu: "Depois de uma semana, é que o bebê já tem uma boa quantidade de fatores de coagulação na circulação. Ou seja, irá sangrar menos", explica Paulo Moscardi.
Daí o período que se inicia a partir da primeira semana indicado para quem quer fazer a cirurgia cedinho, seja por qualquer razão, incluindo as culturais na linha "para ter a cara do pai", isto é, se o pênis paterno passou por isso. Cara de pau é fazer isso com a criança, cujo corpo tem seus próprios mecanismos de se livrar do excesso de pele.
"As mães é que ficam preocupadas de tanta história de que precisam operar a criança voando", conta Paulo Moscardi. "Mas vou logo garantindo que metade dos meninos consegue expor a glande ao final do primeiro ano de vida sem fazer nada, absolutamente nada.". Aos 3 anos, então, 90 por cento já resolveu a questão naturalmente. Na entrada da puberdade, cerca de 1% apenas dos rapazes tem fimose. Portanto, gente, se não é questão de religião, segure a lâmina afiada e bote fé na natureza. Ela se vira.
Afinal, a primeira coisa que um pênis faz, além de xixi sem esperar, é ficar duro. Recém-nascidos já acordam com ereções e o pintinho se anima, se duvidar, com qualquer algodão na troca de fraldas. Rapazes sendo rapazes … "A cada ereção, forçam um pouco essa pele, que vai se tornando mais elástica e, aos poucos, indo para o lugar certo", descreve Paulo Moscardi.
Outra invenção de mamãe natureza às vezes assusta mamães de verdade: o esmegna, substância branca, meio pastosa, que elas encontram por lá. É, pode não ser um achado dos mais agradáveis e muitas pensam ser pus. O esmegma, no entanto, é puro sebo misturado com células mortas que se acumulam sob o prepúcio grandalhão. Merece, lógico, água e sabão, mas tem o seu valor: "Ele vai ajudando a descolar a pele da glande", diz o médico.
Já o pus pra valer aparece ou, vá lá, pode aparecer quando se inventa moda. Uma delas é massagear o dito-cujo para forçar a tal pele. "Ainda mais nos bebês novinhos, esses movimentos podem causar pequeníssimos traumas nos tecidos", descreve o urologista. Por mais que sejam microscópicos, para agentes infecciosos aquilo se transforma em brecha. Ou seja, em porta de entrada para balanites, inflamações na cabeça do pênis, e balanopostites, quando tanto a glande quanto o prepúcio se inflamam. São problemas comuns, tratados com antibióticos, especialmente quando são realizadas essas manobras ou massagens nos primeiros anos. Portanto, aviso: larguem mão.
O ideal, segundo Paulo Moscardi, é esperar o menino fazer 2 anos e se aproximar dos 3 sem fazer nada para avaliar como estão as coisas. Se o prepúcio ainda não atendeu ao toque de recolher, como acontece em metade dos casos nessa faixa etária, aí, sim, pode-se pensar em alguma outra solução. Especialmente quando há problemas com o chamado anel de contrição — pobres garotos, existe isso!
O anel de constrição é uma área do tal prepúcio literalmente menor do que o diâmetro da glande. Imagine aí uma gola rolê apertada — alguém se lembra do sufoco que é despir uma camisa de gola rolê apertada?! No caso do pênis do menininho, nada vai para frente, nem para trás. E forçar, mais do que nunca, se transforma em perigo — o de rolar uma parafimose.
A parafimose é quando a pele vai para trás, geralmente por causa de uma massagem mal orientada para corrigir a fimose, e… não volta nunca mais. "Imagine um anel apertado que não sai do dedo enquanto ele incha", compara Paulo Moscardi. Aff, aflição! Ora, o "dedo", no caso, é um pênis. Que está sendo literalmente estrangulado. Corra, baby, corra para o pronto-socorro mais próximo. É uma emergência das bravas. De novo: massagens na criança, para resolver a fimose, precisam de cuidado e muita orientação.
Só devidamente orientados, os adultos — pai ou mãe — podem fazer as manobras quando o menino com fimose já tiver uns 3 anos. Em geral, com pomadas específicas que contêm uma dose baixíssima de corticoides — sem pânico, nem doutor Google! A dose é baixíssima e super segura mesmo. O que a pomada faz é lacear a pele. Assim, ela fica com mais desenvoltura para atender aos estímulos das manobras e daquelas saídas da natureza masculina, como a bendita ereção.
Só tem um detalhe: "Apesar de os resultados com a pomada aparecerem ligeiro, após um ano de tratamento de 15% e 20% dos casos regridem", avisa Paulo Moscardi. A pele volta a esconder a cabeça em geral porque os pais interrompem o uso da medicação antes da hora e, principalmente, param de fazer as massagens. Ou não ensinam a criança, mais crescidinha, a realizar os movimentos durante o banho. Além de criar a bem-vinda autonomia e de aproveitar o momento para explicar a importância da higiene, tem outra: o garoto, senhor do seu pênis, sabe quando está forçando. O incômodo é um aviso e ele nunca puxará demais.
É evidnte que, se nada disso der certo, a saída deverá ser cirúrgica. E que talvez — aí, sim — seja melhor nem esperar a adolescência para operar. Afinal, embora o procedimento seja simples e nem exija dormir no hospital, durando cerca de meia hora, a recuperação é mais desagradável no adolescente, que tem um maior número de ereções. No pós-operatório, elas irão doer e podem até arrebentar um ponto ou outro. Mas, se deu um bom tempo ao tempo e nada aconteceu, é para operar.
Há bons motivos para a glande ficar descoberta. Isso facilita a higiene e diminui o risco de doenças infecciosas. Cai até mesmo o risco de contrair o HIV da Aids. Sem contar o câncer de pênis, nos qual o nosso país infelizmente é um dos campeões mundiais, provocado por falta de limpeza local. Outro benefício é prevenir dor e sustos maiores durante o sexo. Se há fimose na vida adulta, na hora do rala-e-rola o freio — espécie de cordão que segura essa pele — pode arrebentar, causando um sangramento danado e cobrando uma cirurgia no vapt-vupt.
Um medo, porém, todos devem tirar da cabeça: já se falou muito que tirar o excesso do prepúcio diminuiria a sensibilidade do pênis de adultos, mas Paulo Moscardi garante que nenhum estudo, até o momento, mostrou qualquer diferença nesse sentido. Portanto, a ordem é para se expor totalmente, rapazes.
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