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Baru, a semente que pode reduzir as taxas do colesterol ruim

Lúcia Helena

22/11/2018 04h00

Crédito: iStock

Há quase vinte anos, um colega goiano chegou na redação da revista em que eu trabalhava com um saquinho cheio de sementes escuras, ligeiramente maiores do que uma amêndoa e menores do que uma castanha-do-Pará. Apresentou-as como se fossem pérolas raras e ovaladas, vestidas em uma pele marrom e brilhante, que naquela época só os nativos do Cerrado sabiam degustar. Foi assim que conheci o baru.

Se, na ocasião, ele chegou com pompa e circunstância até a minha mesa de trabalho por causa do sabor levemente adocicado, hoje ele ganha fama por suas propriedades. Já faz mais de dez anos, aliás, que elas são estudadas por um time da Universidade Federal de Goiás. Primeiro, o grupo de cientistas decifrou sua composição. Depois fez experiências incluindo o baru na dieta de animais de laboratório. Finalmente, analisaram em nós, pobres humanos. E hoje têm certeza de que o baru é um dos maiores aliados para quem precisa baixar as taxas de colesterol, quando elas estão um pouco mais elevadas do que o normal. Talvez, aviso, essa saborosa estratégia ajude menos àqueles com os níveis  dessa gordura na estratosfera. Mesmo assim…

Em um dos trabalhos, liderado pela professora Maria Margareth Veloso Naves, cerca de 15 sementinhas, ou o equivalente a 20 gramas, foram oferecidas a homens e mulheres, entre 21 e 60 anos, que tinham as taxas de colesterol ligeiramente altas. Outra turma também foi acompanhada no estudo: recebeu orientações sobre dieta e estilo de vida, mas não ganhou alguns saquinhos de baru para petiscar. Ela ganhou, isso sim, cápsulas cheias de amido, para checar o tal do efeito placebo — isto é, se engolindo aquilo acreditando que estariam diminuindo os lipídeos do sangue, essa espécie de enganação da ciência teria algum efeito benéfico. Adianto: não colou.

Os exames de sangue dos voluntários que engoliram o falso remédio ficaram quase na mesma, enquanto os que comeram baru pra valer todo santo dia, ao longo de três meses, viram uma redução de 8,1% no colesterol total e, melhor ainda, de 9,4% no LDL, que é aquele danado de ruim para os vasos, onde tende a encalhar, levando a obstruções perigosas, aquelas que conduzem a infartos e derrames.

Em parte, isso acontece porque o baru é cheio de ácidos graxos mono e poli-insaturados, as tais gorduras do bem. Mas a explicação não está só nisso. As sementes são cheias de fibras e compostos bioativos, como os polifenóis, que conseguem impedir a absorção de uma parcela das moléculas gorduras no intestino. E — importante — o baru ainda contém doses generosas de substâncias que impedem o colesterol de se oxidar.

Faz diferença porque, grosseiramente explicando, uma molécula de colesterol solta na corrente sanguínea vira problema quando se oxida, já que aí mesmo é que se deposita na parede dos vasos, dando início às famigeradas placas.

Uma dica de consumo: melhor que o baru esteja  torradinho. É o calor da torrefação que elimina componentes chamados fatores antinutricionais. Como o nome dá pista, são substâncias que atrapalham o aproveitamento de outros nutrientes e, ainda, provocam gases em gente mais sensível. Mas, se a semente está bem torrada, aproveite para comê-las sem medo porque, ali dentro, só tem coisa boa.

Só mais uma dica: a pele do baru é mais grossa, bem mais grossa do que a do amendoim. Mas resista à ideia de removê-la, apesar de alguns preferirem a semente sem essa casquinha. Isso porque boa parte dos tais bioativos se concentra na película escura que, portanto, não deve ser desperdiçada.

E não pense que para por aí. O baru tem proteína aos montes — aproximadamente duas vezes mais do que qualquer outra oleaginosa, quase um terço de sua composição. Ou 31 gramas em cada 100 gramas.  Até porque fique sabendo do seguinte: na boca do povo, ele ganhou essa alcunha que remete às nozes, às amêndoas e ao amendoim recentemente. Porém, na verdade o fruto do barueiro é uma legítima leguminosa. Portanto, primo do feijão, da ervilha e do grão-de-bico. Tem tudo o de bom que esses grãos oferecem —ferro também! — e ainda dá uma força ao peito com suas gorduras que varrem o colesterol.

Só evite beliscar o baru que já vem salgado, porque geralmente essa versão capricha no condimento. De que adianta ficar de olho no colesterol e se encher de sódio para subir a pressão? Claro que também não vale comer 15 barus por dia e ficar salivando por frituras. Nem lanchar baru e ficar estagnado na rotina sedentária. Não há semente que faça sozinha o milagre. Mas que o baru ajuda o santo protetor do coração, ah, ele ajuda…

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Sobre o autor

Lúcia Helena de Oliveira é uma jornalista apaixonada por saúde, assunto sobre o qual escreve há mais de três décadas, com cursos de especialização no Brasil e no exterior. Dirigiu por 17 anos a revista SAÚDE, na Editora Abril, editou 38 livros de autores médicos para o público leigo e, recentemente, criou a Vitamina, uma agência para produzir conteúdo e outras iniciativas nas áreas de medicina, alimentação e atividade física.

Sobre o blog

Se há uma coisa que a Lúcia Helena adora fazer é traduzir os mais complicados conceitos da ciência da saúde, de um jeito muito leve sem deixar de ser profundo, às vezes divertido, para qualquer um entender e se situar. E é o que faz aqui, duas vezes por semana, sempre de olho no assunto que está todo mundo comentando, nos novos achados dos pesquisadores, nas inevitáveis polêmicas e, claro, nas tendências do movimentadíssimo universo saudável.